Apresento-lhes este excelente "Tempo" da poetisa Ceres Marylise um expoente da nossa poesia e da AVSPE.
TEMPO
Ceres Marylise
Nesta noite em que todos comemoram
a morte de um ano insuportável,
de violência, desgoverno e incerteza,
as mãos se buscam ainda em efusão
para um desejo de paz alvissareira.
Passam pessoas vestidas de loucura,
paira no ar o hálito dos ébrios;
a cidade parece estar histérica…
esta é a noite em que todos se esquecem
das contas, das partidas, das tristezas.
Aos pobrezinhos dormindo nas calçadas,
dizem palavras de alento aos infelizes,
como se o tempo marcado pelos homens,
mudasse realmente cada história
e apagasse nossas fundas cicatrizes.
Ó tempo, que és o último e o primeiro,
tu que passas entre cinzas e enfeites,
tu que avanças com ruídos, tempestades,
tu que não morres, nem carregas nossas cruzes,
mostra aos homens outra forma de acolher-te!
Ceres Marylise
Madrugada de 31/12/05